Já faz tempo que não escrevo. Estou devendo as “gotinhas” de história que prometi relatar. Aí vai mais uma “gotinha”.
Vou escrever um pouco sobre o Vale do Jequitinhonha, mais especificamente do processo de colonização ocorrido na região após a chegada de Cabral ao Brasil.
Passados cerca de 50 anos do primeiro desembarque dos portugueses em nossa terra, a coroa portuguesa decidiu povoá-la. Isso era importante, pois além de garantir a posse sobre a terra, facilitaria o controle de outros povos, os chamados piratas europeus.
As primeiras expedições para cá foram financiadas e organizadas pelo governo português e já por volta de 1550 aconteceram as primeiras investidas em terras do Jequitinhonha.
Entre 1550 e 1574 chegaram ao Vale três expedições. A primeira denominada Espinosa/Navarro, nome de seus líderes, acompanhando o Rio Jequitinhonha chegou à Serra do Espinhaço passando por Serro, Diamantina, Minas Novas, até o atual município de Belmonte.
Em 1573 e 1574 chegaram por aqui mais duas entradas. Ambas vieram motivadas pelas alvissareiras notícias que chegavam à Europa, sobre a grande quantidade de metais e pedras preciosas encontradas na nova terra.
A Expedição de Tourinho veio ávida em busca das famosas jazidas de esmeraldas, mas não as tendo encontrado levou muitas turmalinas, safiras, topázios, berilos e águas marinhas.
A terceira entrada, denominada Expedição de Adorno, subindo o Rio Jequitinhonha recolheu pedras e minérios que revelavam a existência de metais preciosos, fato que justificaria mais tarde, a imensa febre de “caça ao tesouro”, ocorrido nas Minas Gerais.
Muitos foram os obstáculos enfrentados pelos aventureiros portugueses ao desbravar nossa terra. No Vale do Jequitinhonha a situação não foi diferente. A densa vegetação que compunha a Mata Atlântica, o acidentado relevo da Serra do Espinhaço, as dificuldades de comunicação e principalmente a brava resistência dos índios, especialmente da Tribo Botocudos, amplamente conhecidos por seu caráter firme e guerreiro, poderiam ser consideradas como adversidades “seis estrelas”.
No entanto, nada disso arrefeceu o ânimo dos desbravadores. Eles foram até o fim, deixando um vasto legado de destruição tanto ambiental quanto cultural e social.
A Mata Atlântica foi impiedosamente devastada, dando lugar a terrenos para a produção agrícola. A queimada dos troncos e raízes esgotou a força produtiva da terra e grande parte da mata transformou-se em campo de erva gramínea, capim ou capoeira fraca.
Igor Moreira em seu livro o Espaço Geográfico relata: “a devastação foi tão grande que os moradores foram obrigados a procurar madeiras para suas construções em locais bem distantes. No final do século XIX, a devastação e o processo de assoreamento do Rio Jequitinhonha já haviam reduzido drasticamente a Mata do Jequitinhonha”.
E assim acaba nossa “gotinha” de hoje. Agora que acabei de escrever este texto, entendo porque a história deve ser administrada em gotinhas…
Até a próxima!
Lídia Calisto