O que se vive não se esquece….
No dia 21 de julho de 2004, fomos visitar as terras que serão inundadas pelas águas da barragem da Usina do Irapé. Essas terras estão localizadas no município de José Gonçalves de Minas, MG – região do Vale do Jequitinhonha.
Fizemos a visita a região acompanhados pelo Secretário da Educação, João (criado no Patronato), Bel, Nívea, Carlos seguimos até a localidade de Mandacaru – J.G.de Minas.
Bel, professora e assessora do secretário da educação nos contou que o primeiro nome da cidade de José Gonçalves de Minas foi “Vargens dos Bodes”, a segunda denominação dessa cidade foi a de “Gangorras”, que significa pilão de milho, nome este ainda muito usado por muitos e que depois da emancipação recebeu o nome de José Gonçalves de Minas, nome de pessoa muito conhecida na região.
Seguimos até um trecho de “VAN”, e daí para frente foi necessário seguir a pé.
No caminho encontramos Sr. Dico Veiga de Paula, 44 anos, nascido na região, que nos contou com brilho nos olhos, que irá se mudar para Rio Preto, perto Montes Claros.
Digo a vocês que é bem distante das terras atuais.
Seu Dico nos contou que já havia recebido a indenização da CEMIG e que seus animais seriam transportados para a nova terra.
Prosseguindo no caminho adentramos as terras de Tony (Antonio), 31 anos, filho mais velho da família, pai solteiro de um casal de gêmeos, proprietário de terra produtiva e de engenho de cana de açúcar, onde sua principal fonte de renda é a produção de aguardente. O destino de Tony e sua família será diferente, eles irão se deslocar para outra parte do terreno deles, uma parte mais alta, e será necessário irrigar muito bem o terreno pois o novo local não é propício para a plantação de cana e certamente a produção diminuirá.
Tony possui família grande e cercado de casas de familiares, contou-nos com água no olhos que a família irá separa-se. Na tentativa de conhecer mais sobre a história dessas pessoas entramos em sua casa e no quintal, conhecemos sua mãe, Dona Alzira e suas irmãs que descascavam mandioca. Ela contou que produzem para o consumo da família feijão e milho. Perguntamos o que sentia em relação a mudança e de forma direta nos disse: – Não tem jeito!!
Mais a diante chegamos até a casa de Dona Ana, mãe de dona Alzira, com 76 anos, que nasceu no local, mora sozinha e quase nunca sai de casa. Irá mudar-se para Curvelo e passiva diz que não haverá jeito, tem que mudar. Perguntamos sobre as histórias e cantigas e disse não se lembrava de muita coisa. Lembrava-se do tempo das fogueiras, das festas. Disse: – Não tenho na cabeça essa história de música ! Teve 12 filhos dos quais morreram 4. Nasceu naquela casa, e contou-nos que na região havia onça e macacos na cabeceira do rio e que alimentavam-se de anta, paca, tatu e veado. Viúva há 50 anos narrou que casou com um moço que morava na casa do padrinho. A única história de assombração que nos contou foi a do homem que tem coxo nas costas e anda pelo mato.
Chegamos a casa de Dona Maria José. Ela nos falou sobre seu descontentamento, disse que adoeceu por causa da mudança. Está muito preocupada pois não sabe se a indenização bastará para reconstruir sua vida. Moradora no local desde que nasceu, há 54 anos. É casada com um senhor de 76 anos que ainda trabalha na roça. Possuidora de terras produtivas com lindas laranjeiras com saborosos frutos, planta café e cana de açúcar. Em suas terras encontramos uma bela horta bem cuidada com diversos alimentos: alface, tomate, cenoura, maxixe entre outros.
A última casa a ser visitada em 21.7 foi uma família muito simpática nos recebeu calorosamente com um cafezinho e bijú. Nesse caso já receberam a indenização e estarão se mudando em setembro. Contaram que tudo será demolido. Sobre histórias da região nos contaram sobre uma alma que aparece na estrada que assusta os cavalos.
O que pudemos observar histórias muito particulares e humanas e o mais interessante de tudo é o contato com o povo do Jequitinhonha amigo, humilde, hospitaleiro e de muito valor!!!!
Na lembrança desse dia fica a música que cantamos retornando “Amarra esse boi com corda de cipó/Coro desse boi é forte/Tem que caprichar no nó”.
Telma